31/12/2010
Um ditador às portas do Juízo Final
Rogerio Medeiros
“O sol há de brilhar mais uma vez.
A luz há de chegar aos corações.
Do mal será cortada a semente.
E o amor será eterno novamente”.
(Juízo Final - Nelson Cavaquinho)
O governador Paulo Hartung desocupa o palácio Anchieta convencido de que plantou na memória do povo capixaba uma enorme gratidão para com ele. Sai acreditando que vão achar que nada existiu melhor do que ele e nada haverá de ser melhor do que ele foi.
E que o povo capixaba soube aceitar a interrupção da democracia para recolocar o Estado nos trilhos. Era preferível um período de exceção a continuar com governantes incapazes. À semelhança do que fizeram outros ditadores, valeu-se também de um desencanto popular para com a própria democracia.
Rotulou de corruptos os governantes mais próximos que sucedeu. Para implantar o seu regime de exceção, buscou exemplos em Getúlio Vargas, com o Estado Novo, e em Hitler, com o Terceiro Reich. É só olhar o “Novo Espírito Santo”, que cunhou como lema de seu governo. Representa que antes dele não existiu nada em matéria de bom desempenho de governo. O Estado Novo, de Vargas, também se utilizou de recurso semelhante, como Adolf Hitler, como o Terceiro Reich, na Alemanha.
Em nome de recolocar o Estado nos trilhos da democracia fez-se necessário um período de “limpeza ética” pelo qual valia, como realmente veio a valer, a morte moral daqueles que se colocaram contra ele. Sob o rótulo de purificação política, produziu esqueletos e marginais políticos.
Um Judiciário e um Ministério Público que encharcou de recursos (a ponto de elevar suas receitas em mais de 130%), mais a OAB, a Assembléia e a Igreja Católica, lhe ofereceram sustentação para que pudesse quebrar todos os veneráveis códigos da liberdade e dos direitos humanos. (A bem da verdade, convém ressalvar que a Igreja Católica participou do processo enquanto Dom Scandian esteve à sua frente e a OAB, com o advogado Agesandro. Tudo no estilo nazista do grande despertar político da população.
Fez do ex-presidente da Assembléia, José Carlos Gratz, o inimigo publico número um dos capixabas, utilizando-se do seu arruinado desempenho à frente da Assembléia. Jogou com ele para impactar a população com a ameaça permanente do crime organizado. Conduziu essa ameaça por todos os seus oito anos de governo, sob a vigilância de um aparelho moderno de escuta, o Guardião, pelo qual vigiou o Estado. Com a ajuda dele, não teve qualquer escrúpulo em destruir quem pudesse atrapalhar os seus planos, daí ter sido sempre apanhado em verdadeiras atitudes nazi-fascistas.
Mas essa fantasmagórica e criativa aura de poder não lograria êxito se não tivesse contado com a colaboração da imprensa capixaba, que jamais levantou a voz contra ele. Ao contrário, foram oito anos se desmanchando em elogios e lapidando a sua imagem. A tal ponto que um de seus maiores aliados, o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas, revoltado, achou por bem denominar o seu governo de bonapartista. A imprensa local realmente embelezou os fatos por ele gerados, erguendo-lhe um verdadeiro altar de divindade política.
Uma população desinformada é sempre vítima das alegações fraudulentas. Está na raiz das ditaduras. E, na arte de fraudar, o governador Paulo Hartung foi insuperável. A ponto de colocar um manto protetor em cima do crime organizado do Judiciário capixaba. Foi realmente o máximo de seus poderes. Pois o crime organizado do Judiciário tem nomes, fatos e atos. Tudo que lhe diz respeito.
Esses poderes excepcionais de que se apossou serviram também para tapar sua falta de carisma e sua aversão ao contato com a opinião pública.
Internacionalizou a economia do Estado em detrimento do empresariado capixaba. Dos imensos lucros das transnacionais, principalmente da CST, Aracruz Celulose, Vale e Samarco, tirou o suficiente para sustentar as campanhas eleitorais dos seus aliados, dando a elas também o direito à poluição. No seu governo triunfaram sempre os interesses financeiros.
No seio desse regime de terror moral, o governo de Paulo Hartung imunizou-se até do dever de prestar contas, a ponto de passar ao largo dos processos licitatórios. Sob o rótulo de emergência, estabeleceu um recorde nas suas concessões. Pois foi o governo que mais alegou emergência para não fazer licitações. Somando as áreas de Saúde e Justiça, consumiu fábulas de dinheiro. No campo das renúncias fiscais, também bateu recorde.
Tratou com o maior desprezo político os campos social e de direitos humanos. A história das masmorras dos cárceres capixabas acabou na ONU – para vergonha nacional. Jamais se reuniu com qualquer entidade do movimento social. Quando chegou ao governo, extinguiu todos os fóruns de discussão, a ponto de colocar em inatividade até o Conselho de Cultura. Os índios capixabas, apesar de inúmeras solicitações, jamais foram recebidos por ele. Nisso também seguiu a regra das ditaduras de Vargas e Hitler. Foi a ludibriação política no seu mais alto nível.
Ao deixar o governo, o seu grande problema será o de voltar à condição de ser humano. Quando isso ocorrer, inevitavelmente, ele estará sujeito a ser julgado. Um imenso número de vítimas dos seus oito anos de governo pode querer abrir as portas da história para finalmente julgá-lo. Especialmente os que foram humilhados pelo medo e os que foram vítimas do terror das traições. A retomada do hábito da liberdade proporcionará às suas vítimas o direito ao Juízo Final.
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Charles Calatroni, protetico (linhares/ES)
Enviado em 01/01/2011 12:46:00
AINDA BEM QUE NEM TODOS OS OLHOS DESTE ESTADO FORAM CAUTERIZADOS..O PERIGO DESTE ESTILO HARTUNG É QUE ESTÁ SE TORNANDO COMUM EM TODO PAÍS COM OS GOVERNANTES SE APROVEITANDO DO MEDO E DESCRENÇA DOS "SIMPLES".TUDO CONTINUA COMO SEMPRE FOI,UMA FESTA PARA OS AMIGOS DO REI...
sandra ribas lugato, do lar (v.velha/ES)
Enviado em 05/01/2011 12:23:44
Fiel e verdadeiras esta colocação da era Hartung, esperamos que o novo governo esteja com olhos e ouvidos atentos , por amor ao povo capixaba e que seja um governo transparente e democrático .
, (/ )
Enviado em 11/02/2011 19:20:23
Muito bom, Rogério, na medida em que voce descreve os feitos de Peagá em vez de generalizar adjetivações. Parabéns! Eustáquio
Marta Sara Seibert, Funcionaria Publica (Vila Velha/ES)
Enviado em 24/02/2011 18:32:17
Bravíssimo!
Flavio Valadares dos Santos Roberto, Contador (Serra/ES)
Enviado em 22/03/2011 09:34:01
Bom não existiu e nem existirá um Governador que atenda a expectativa e o ponto de vista de cada individuo.
http://www.seculodiario.com.br/exibir_not_coluna.asp?id=3399
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