quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vítimas tinham de comprar veículo e ainda pagar R$ 8 mil; suspeito alugaria os carros para o governo


Um golpe milionário

Vítimas tinham de comprar veículo e ainda pagar R$ 8 mil; suspeito alugaria os carros para o governo

01/02/2011 - 23h09 - Atualizado em 01/02/2011 - 23h09
A Gazeta



Anny Giacominagiacomin@redegazeta.com.br
foto: Reprodução
Estelionatário Luis Rentado da Costa
Luis Rentado da Costa é acusado de aplicar golpe em pelo menos 40 pessoas, em três estados


Vinte milhões de reais: essa é a estimativa do prejuízo dado por um golpista em pelo menos 40 pessoas no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. O acusado - Luís Renato Pereira da Costa, 37 anos - foi preso, na noite de segunda-feira, num hotel, em Itaparica, Vila Velha. Segundo a polícia, esse é o maior golpe já aplicado no Estado e um dos maiores do país.

Luís Renato é dono da empresa Vitória Car. Ele fazia um contrato verbal com as vítimas, convencendo-as de que seus veículos seriam alugados ao governo do Estado. Isso renderia ao proprietário uma quantia de até R$ 12 mil, por carro, dependendo do modelo.

Veja como funcionava o esquema

Além de dar o veículo - que deveria ser equipado com rastreador, banco de couro, ar-condicionado e aparelho de som -, a vítima ainda teria que pagar a chamada "merenda", uma espécie de adesão ao contrato. O valor também variava conforme o modelo do carro, podendo chegar a R$ 8 mil.

O golpista disse às vítimas que a "merenda" era necessária porque deveria repassar esse valor ao governo do Estado. Falou, ainda, que da "merenda", ele ficaria com R$ 300,00 referente a cada locação.

Prisão
O esquema foi descoberto por acaso, depois que a filha de um policial civil contou ao pai que as vendas de carros na concessionária em que trabalha haviam aumentado bastante na última semana. O policial desconfiou de que se tratava de um golpe quando a filha contou que quem comprava os automóveis pagavam uma comissão ao suspeito.

O delegado Gilson Gomes acredita que esse é um dos maiores golpes aplicados no país. "O golpista criou uma bolha que já iria explodir, pois não tinha como pagar as vítimas. E não tinha documentos que comprovassem nada."

Ontem, 30 carros foram recuperados depois que a polícia estourou dois depósitos dos carros: no Bairro de Fátima, na Serra, e em Linhares, no Norte do Estado. Alguns foram vendidos, de acordo com as vítimas. Outros seriam vendidos no Paraguai, acredita a polícia.

Luís Renato pode ser condenado a até cinco anos de prisão. (Com colaboração de Natalie Marino)

Governo diz que aluguel de veículos é feito por licitação

O governo do Estado do Espírito Santo e a assessoria do senador Ricardo Ferraço afirmaram que desconhecem a existência da empresa Vitória Car e a ocorrência desse golpe. Em nota, por meio da Secretaria de Gestão e Recursos Humanos, o governo informou que o processo de seleção e de contratação de empresas de aluguel de veículos é realizada por meio de licitação. Para isso, todas as empresas interessadas e que participam desse processo devem estar inscritas no Cadastro de Fornecedor Estadual. Para a efetivação do cadastro, as
empresas devem atender às condições e apresentar a relação de documentos exigidos que garantam a sua regularidade e legalidade.

Versão
"Eu não sou um anjo, mas também não sou esse monstro de que eles estão falando"

O acusado de aplicar o golpe do aluguel de carros, Luís Renato da Costa, contou que abriu o negócio com o intuito de alugar veículos. O acusado é do Rio de Janeiro e morava em Vila Velha havia dois anos. Ele não apresentou à polícia nenhum documento que comprove se esse é seu verdadeiro nome. Sentado numa cadeira, na sala do delegado Gilson Gomes, titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações (Defa), Luís Renato conversou com a reportagem.

O senhor está sendo acusado de aplicar o golpe do aluguel de carros. O que tem a dizer?
Eu abri a empresa para ser um negócio pequeno, mas foi uma pirâmide. De repente passaram a chover carros e clientes para mim. Não tinha como eu negar.

Realmente usava o nome do governo do Estado para fechar
os negócios?
Não. Eu nunca falei em nome do governo. Mas falava que iria alugar os veículos sim, tanto que o prazo que eu dei é até março. Eu aluguei oito salas, vários espaços para colocar os carros.

Quantos carros o senhor conseguiu?
Eles estão falando que são 200, mas é um pouco mais que 100. E o valor da comissão é fixo de R$ 1.250.

O senhor aplicou mesmo os golpes?
Olha só, não sou um anjo, mas também não sou esse monstro que estão falando.

Por que o senhor está preso então?
Não sei por que fui preso. Até agora não pude conversar direito com minha advogada.


Promessas
Até 12 mil reais
Esse era o valor do faturamento mensal prometido pelo estelionatário para as vítimas do golpe do aluguel de carros.

Mais de 200 veículos

É a quantidade de carros que foram comprados e entregues ao acusado para locação, por pelo menos 40 pessoas.

Acusado fingia ser amigo do governador
Para conseguir atrair as vítimas, Luís Renato da Costa, 37 anos, falava que tinha influência no governo do Estado e que fecharia contratos de transporte com secretarias e autarquias.

De acordo com o relato das vítimas, ele exigia que a pessoa comprasse um carro de luxo, como Ranger, Corolla, Fusion e até um utilitário SSangyong. "Ele disse que teríamos que entregar os carros no dia 1º de janeiro e que o retorno seria alto. Quem não ficaria seduzido com uma proposta dessas?", questionou uma das vítimas.

Além de bem-vestido, sempre com ternos caros, Luís Renato andava acompanhado de seguranças e levava as vítimas para almoçar em restaurantes caros da Capital e de Vila Velha. Por muitas vezes, quando seu telefone tocava, aparecia no visor o nome do governador Renato Casagrande e do senador Ricardo Ferraço.

"Ele dizia que era amigo íntimo deles e contava detalhes da vida pessoal. Como desconfiar de um cara bem quisto? O telefone tocava, e ele atendia como se estivesse mesmo falando com o governador. Ele tinha uma lábia muito boa", ressaltou um comerciante que teve, pelo menos, R$ 1 milhão de prejuízo. Ele e a família, junto com amigos, chegaram a comprar 60 veículos.

Empresa anunciou ajuda para vítimas das chuvas no Rio

A empresa Vitória Car chegou a anunciar nos jornais capixabas um pedido de ajuda para as vítimas das enchentes da Região Serrana do Rio de Janeiro, no mês passado. Parte do anúncio publicado diz: "A Vitória Car, empresa do ramo de locação de veículos, está arrecadando donativos para os desabrigados das enchentes de Nova Friburgo. Os donativos deverão ser entregues na nossa sede, na Avenida José Matias Rato, 480, no Bairro de Fátima (...) ?O Senhor é meu pastor e nada me faltará?. Vamos ajudar nossos irmãos". De acordo com informações da polícia, a Vitória Car funcionava havia duas semanas no Bairro de Fátima. Um comerciante vizinho, que trabalha há 30 anos na região, disse que os rapazes que estavam trabalhando na loja não eram nada simpáticos. "Eles pediam para a gente não deixar os carros nas calçadas, em frente à loja, porque isso atrapalharia a visão de quem passava na rua. Além disso, não davam sequer um bom dia", reclama
http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/02/763259-um+golpe+milionario.html

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